Vagando e Divagando

Ted Chiang é o autor do conto que deu origem a um dos melhores (senão o melhor) filmes da última década: A Chegada, dirigido por Denis Villeneuve, estrelado por Amy Adams e Jeremy Renner, inspirado em História da sua vida, da coletânea História da sua vida e outros contos, também publicado pelo Intrínseca aqui no Brasil. Quando foi anunciado Expiração, não pensei duas vezes e decidi que teria que ler e entender toda a genialidade de um dos mais aclamados autores de ficção científica da atualidade.

Misturando doses certas de ficção científica às nossas questões mais antigas enquanto espécie e indivíduos, a narrativa de Chiang impressiona e estimula profundas reflexões sobre o homem, a humanidade, a sociedade e o livre-arbítrio.

Expiração foi uma ótima surpresa em vários sentidos, a começar pela versatilidade que o autor apresenta em cada um dos nove contos que estão no livro. É uma variedade admirável de história, situações e temas discutidos ao longo de todas as páginas.

Temos também uma leve dose de fantasia apresentada em alguns contos. Como um fã do gênero e sabendo de toda a conexão existente entre Ficção Científica e Fantasia, não poderia estar mais satisfeito. Isso, casado ao ritmo bem cadenciado das narrativas, deixa Expiração mostrar toda a sua variedade e nos encantar ao longo de suas páginas.

A escrita de Ted Chiang, como eu já disse, dá um ritmo bem cadenciado para praticamente todos os contos. E eu terminei o livro sem me adaptar totalmente. Senti isso principalmente nos dois maiores contos: O ciclo de vida dos objetos de software (que foi um dos meus favoritos do livro) e A ânsia é a vertigem da liberdade (que eu já não curti tanto). Nesses dois, dá pra sentir que eles poderiam ou durar menos ou ser mais direto ao ponto.

Meus contos favoritos foram:

O mercador e o portal do alquimista, uma bela e diferente história sobre viagem no tempo, que mostra que tudo acontece por um propósito e a história é imutável. Mesmo assim, como seria conversar com seu eu de 20 anos no futuro ou voltar para o momento que definiu como seria a sua vida daquele ponto e diante?

O ciclo de vida dos objetos de software: uma história em que a humanidade cria mascotes com inteligência artificial, que aprende através de contato com pessoas em ambientes virtuais e evoluem tanto a ponto de iniciar discussões sobre abandono e a possibilidade desses seres comandarem a própria vida, ganhar dinheiro e tudo mais que for possível.

A verdade dos fatos, a verdade dos sentimentos: uma tecnologia transformou completamente os processos de cognição, tirando a necessidade da humanidade de se lembrar até mesmo de acontecimentos simples do cotidiano. No meio de tudo isso, uma relação abalada entre pai e filha que lembram de formas diferentes um acontecimento do passado.

O Grande Silêncio: me pegou completamente de surpresa. Um papagaio narrando uma história sobre a incessante busca da humanidade por inteligência extra terrestre, enquanto ignora completamente a possibilidade de aprender mais sobre outras espécies inteligentes do próprio planeta.