[RESENHA] Pachinko



Olá pessoal, tudo bem? Estou de volta trazendo a resenha da minha melhor leitura do ano até o momento: Pachinko, de Min Jin Lee.

No início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona- se perdidamente por um rico forasteiro na costa perto de sua casa, na Coreia. Esse homem promete o mundo a ela, mas, quando descobre que está grávida ― e que seu amado é casado ―, Sunja se recusa a ser comprada. Em vez disso, aceita o pedido de casamento de um homem gentil e doente, um pastor que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o poderoso pai de seu filho dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de gerações por quase cem anos.

Pachinko é um livro extremamente tocante e melancólico. Ele, além de uma história sobre família e amor é também uma história sobre querer sentir-se aceito. Querer sentir-se aceito como pessoa, cidadão. Uma história que nos apresenta uma pequena fração do sofrimento de todo um povo através da ótica da família que Sunja forma ao longo das décadas vivendo no Japão.

Esse definitivamente é um livro que me tirou da minha zona de conforto. E não digo isso para dar a entender que é uma obra difícil de ler. Pelo contrário, o ritmo e fluidez de Pachinko é definitivamente um de seus pontos mais fortes, e claro que eu não posso deixar de colocar isso na conta da excelente tradução de Marina Vargas. A forma com que a narrativa evolui e a igual leveza no tratamento dos momentos mais felizes aos mais dramáticos é simplesmente incrível.



Min Jin Lee nos apresenta diversos personagens e motivações. Além de Sunja, temos Hansu, pai de seu filho Noa, além de Isak, pai de seu segundo filho, Mozasu e muitos outros, como seus netos, cunhados e amigos. Definitivamente é um enorme retrato de uma família. E acreditem, não são personagens demais. Todas as histórias se conectam, mesmo que em algum momento cada um deles tenha que construir sua própria história. Mas vale falar que o fantasma do passado sempre está presente, assombrando a família e sendo um fator importante em vários dos acontecimentos.

No aspecto histórico livro também é surpreendente. O pouco que eu sabia sobre a ocupação japonesa na Coréia foi completamente ampliado. É uma página da história que até os dias de hoje existe como uma ferida na relação entre os dois países. São praticamente 100 anos de uma relação conturbada, com muitos descendentes de coreanos que foram viver no Japão lutando para ter sua identidade reconhecida e contra os preconceitos. E tudo isso é retratado pela autora através da história da família de Sunja. O mais triste é saber que a reparação histórica ainda não foi feita completamente.



A evolução da narrativa, como já citada, é excelente. Ao longo dos anos vamos acompanhando todas as lutas da família, desde a busca de ter como se sustentar - com as mulheres da família, mesmo contrariando a vontade dos homens, buscando soluções para complementar a renda - até a educação dos mais novos para que sejam alguém na vida, o que não vai ser nem um pouco simples. O preconceito contra os coreanos e seus descendentes é apenas o primeiro dos muitos obstáculos.

O pachinko, caça-níquel presente aos montes no Japão, só entra em cena depois de alguns bons anos. De certa forma, mesmo cercado de preconceitos e desconfianças, é ele que dará um novo rumo à vida de Sunja e suas famílias.



Pachinko não é somente um livro sobre uma família. É sobre as mulheres que lutaram por suas vidas e a de seus filhos, mesmo distante de suas casas. Ou das mulheres que foram levadas de casa com promessas de emprego enquanto na realidade iam para bordéis para exploração sexual. É sobre o peso dos horrores da guerra no orgulho de uma nação. É sobre a capacidade dessa mesma nação reconstruir suas bases com a dor que sentiu e fazer sua cultura ser admirada no mundo inteiro.

É uma leitura que eu mais que recomendo. É lindo, emocionante, tocante, melancólico e ainda assim uma leitura repleta de uma mensagem de esperança e superação.

Na edição da Intrínseca eu só senti falta de um glossário para algumas expressões em coreano ou japonês. Quem não tem contato algum com qualquer uma das duas culturas não vai entender algumas.

E é isso pessoal. Espero que tenham gostado. Leiam Pachinko.

Autora: Min Jin Lee | Editora: Intrínseca | Páginas: 528 | Ano: 2020 | Tradução: Marina Vargas

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