[RESENHA] Laura Dean vive terminando comigo



Olá pessoal, estou de volta trazendo a resenha de um dos quadrinhos de maior sucesso no ano passado, vencedor de algumas categorias da principal premiação da área no mundo, o prêmio Eisner. Esse é Laura Dean vive terminando comigo.

Quando a Intrínseca anunciou que lançaria a obra por aqui, imediatamente fiquei animado e ansioso para seu lançamento. Sem dúvidas era uma das leituras mais aguardadas por quem acompanha os sucessos internacionais por aqui. Uma obra que trata com muita sensibilidade os temas de amor na adolescência, relacionamento tóxico e os efeitos que ele pode ter na auto estima e nas relações com pessoas próximas.

A única coisa que Freddy quer é que Laura Dean pare de terminar com ela, e que todo esse vai e volta no relacionamento das duas tenha um fim. Laura é popular, linda e esbanja simpatia para todos ao seu redor. Por outro lado, é egoísta, insensível, cruel, mesquinha e ainda trai Freddy quando bem entende. É a típica personagem construída para ser odiada do início ao fim. E mesmo as "qualidades" não conseguem enganar o leitor, que acompanha em detalhes a "ciranda" que é o relacionamento entre as duas.

Freddy cada vez mais se vê com mais e mais dúvidas, seu coração não consegue decidir o que quer ou entender se o que sente por Laura realmente é amor ou outra coisa. E ao mesmo tempo em que se sente presa a essa relacionamento, ela vai vendo suas amizades ficarem ainda mais distantes. Como quebrar esse ciclo? Essa possibilidade e escolha só pode partir dela.



Laura Dean vive terminando comigo é um quadrinho extremamente sensível com o que propõe a trabalhar, transmitindo sua mensagem de uma maneira leve e simples, mas sabendo quando tocar nos pontos certos e mostrar o que é um relacionamento tóxico, que vai corroendo as relações entre as pessoas.

O texto de Mariko Tamaki é de uma sensibilidade e leveza incríveis. Não a toa é possível imaginar um número enorme de pessoas se identificando através das situações que ela escreve, de adolescentes a adultos. Porém, em vários momentos tive a sensação de não ser exatamente uma narrativa dinâmica, o que fez com que muitas das situações entre Freddy e Laura se repetissem além do necessário, o que acabou por tomar espaço e oportunidade de se aprofundar em outros temas que ela se propôs a abordar.

Durante boa parte da trama vemos Freddy ficando cada vez mais distante da melhor amiga, Doodle, que claramente está passando por algum problema e o tempo que a protagonista leva para perceber isso é surreal. E quando finalmente vamos descobrir o que é, praticamente não há mais tempo para nada. Obviamente o fantasma de Laura Dean paira sobre qualquer passo que Freddy dá, e isso por si só justifica as escolhas narrativas, mas em assuntos tão importantes como o de Doodle (SPOILER DA NARRATIVA A SEGUIR), que é gravidez e aborto na adolescência, eu senti que também queria mais profundidade e o espaço para isso poderia ter sido facilmente criado. O que temos desse momento é emocionante e com uma força incrível, mas poderia ser muito mais.



A importância que a própria trama de Doodle tem para o desfecho e decisão de Freddy é enorme. Não estar ao lado da amiga em uma situação tão difícil com certeza fez com que nossa protagonista percebesse o ciclo tóxico em que ela vivia. E quando é Freddy quem finalmente decide terminar, sabemos que ali é definitivo. E a leveza das últimas páginas transmite exatamente o peso que ela deixou de carregar em seu coração.

Quanto à arte, o trabalho de Rosemary Valero-O'Connell é lindíssimo. O trabalho predominante em preto e branco, com detalhes muito bem pensados em um tom leve de rosa deixa tudo ainda mais sensível e belo. Também senti um pouco de falta de dinâmica entre alguns quadros, mas não tanto quanto no texto. O maior destaque fica para a habilidade da artista em transmitir a emoção necessária nas cenas. Sentimos o peso ou a leveza emocional nos momentos mais importantes.



É um quadrinho definitivamente importante. Uma protagonista que precisa, acima de tudo, se descobrir para dar o passos que precisa dar. Ainda que eu esperasse mais em alguns pontos, é uma leitura que certamente vale à pena para todos.

Espero que tenham gostado, e até breve!

Autoras: Mariko Tamaki (roteiro) e Rosemary Valero O-Connell (arte) | Editora: Intrínseca | Páginas: 304 | Ano: 2020 | Tradução: Rayssa Galvão


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