[COLUNA] Vagando nos Clássicos - Capitães da Areia

Autor: Jorge Amado
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280
Ano: 1ª Edição - 1937
Sinopse: Capitães da Areia, a história crua e comovente de meninos pobres que moram num trapiche em Salvador e clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, assombrou e encantou várias gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito.






Hoje venho aqui para dar início à primeira coluna do blog: Vagando nos Clássicos.

A ideia dela é falar um pouco sobre certas obras clássicas da literatura brasileira e internacional. Alguns posts serão parecidos com resenhas e outros não, mas a maior diferença dessa coluna para as resenhas normais, será que eu estarei falando um pouco mais sobre o autor, sobre a história por trás da história contada e alguns pontos de impacto que o livro em questão abordar. Então, para começar, Capitães da Areia, de Jorge Amado.

Li Capitães da Areia no ano passado, então a história não está tão fresca em minha mente, mas ainda assim foi um livro marcante e é quase impossível esquecer o quão importante esta obra é. O curioso de tudo isso é o fato de ter lido para uma atividade da faculdade e normalmente, alunos não gostam muito dos livros que lêem por lá. Fui uma das excessões e acabei gostando bastante da história e tive maior interesse em buscar outras obras clássicas da literatura brasileira. Agora, vou das início à coluna propriamente dita.

Sobre o autor


Jorge Amado foi um dos mais famosos e traduzidos autores da literatura brasileira e, o fato de ter feito parte da intelectualidade comunista, fez com que muitas de suas obras tivessem esta ideologia presente. O fato de ser comunista, fez com que fosse preso algumas vezes durante sua vida e que suas obras fossem queimadas em praça pública.

Não há autor mais adaptado para o cinema, teatro e televisão que Jorge Amado. Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tieta do Agreste e outras, foram criações suas que tomaram forma nas atuações de atores consagrados na dramaturgia. Só vendeu menos que Paulo Coelho. Sua obra recebeu o maior prêmio de literatura da língua portuguesa que um autor pode receber: O Prêmio Camões, em 1994.

É considerado por muitos que não há comparativos para seu romance ficcional. Sua obra foi muito importante para nossa literatura e todas elas mostram raízes regionais, sempre abordando problemas sociais, política, folclore e sexualidade.

Capitães da Areia


Algumas das informações contidas aqui estão no posfácio da edição pocket publicada pelo selo Companhia de Bolso.

Capitães da Areia foi publicado no ano de 1937 e ainda é um exemplo de visão social nos dias de hoje. O próprio posfácio que citei mais acima fala isso. É impressionante a atualidade dos temas de Capitães da Areia, mesmo com mais de 80 anos desde sua primeira edição.

Crianças nas ruas, vivendo à margem da sociedade e vistas por essa sociedade como objeto de incômodo e tratados como animais. O retrato do livro de Jorge Amado é claramente visto por décadas em diversas cidades do Brasil e de outros países da América Latina.

Jorge Amado conseguiu, em Capitães da Areia, levar e mostrar por gerações o modo de vida das crianças que pedem esmolas nas ruas do Brasil. Sem dúvidas é o que mais marca nesta obra. Retrato de uma vida sem família, escola e do crescimento das metrópoles que desfavorecem as regiões mais pobres das cidades.

Os protagonistas do livro são crianças de oito a dezesseis anos que vivem uma vida de gente grande. Roubam para sobreviver e aprendem rápido demais a viver como um adulto enquanto sua infância passa em um piscar de olhos, quando deveria estar em seu auge. Possuem poucos amigos em quem confiar, um padre e uma mãe-de-santo, o que pode ser como um fato a se destacar, quando se coloca crenças diferentes dentro de um mesmo cenário.

“Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.”

Os personagens meninos são todos donos de suas próprias histórias. Cada um deles possui um elemento que o destaca dos demais, mas que ao mesmo tempo, sem deixar com que todos eles se diferencie demais uns dos outros. Um garoto manco, que se aproveita de seu defeito físico para roubar dos ricos que se comovem com sua situação. Outro que é devoto e que não vê o roubo como algo certo a se fazer, mas esencial para se manter vivo. Um afilhado de Lampião, com o sonho de entrar para o cangaço e ser seguidor de seu padrinho. Temos um ladrão de livros, o único no grupo que sabe ler, além de ser desenhista para ganhar uns trocados. Um malandro apaixonado por uma prostituta. E o líder, filho de um homem morto durante uma greve dos doqueiros.

O romance é basicamente um retrato de ricos contra pobres, comum em obras do gênero e da época. Mas Capitães da Areia se destaca em muitos outros aspectos. As crianças retratadas tem sua infância perdida rapidamente, mas quando se deparam em momentos em que seus lados mais infantis despertam, vivem e são felizes, mesmo que por alguns ínfimos instantes. Eles podem estar vivendo uma vida cheia de riscos e por mais que não tenham tido a oportunidade de viver a vida de uma criança que está distante da marginalidade, eles se deixam levar pela alegria de ser criança quando ela tem a chance para aparecer: o tão belo carrossel.

“Só vê as luzes que giram com ele e prende em si a certeza que está num carrossel.”

Quando uma menina entra no grupo, temos uma virada na história. Normalmente, qualquer menina que apareça para eles são vítimas de suas necessidades que se desenvolveram com seu crescimento precoce. Mas essa garota aparece e faz com que todos eles quebrem algumas de suas regras e leis. Ela passa a viver ali como parte de todos eles e é construída como uma figura materna, uma mãe que muitos ali não tiveram oportunidade de conhecer ou de viver uma vida feliz ao lado dela. Porém, ela se despede tão rápido quanto surge. É a vida pregando suas peças nos meninos do trapiche.

“Porque agora sabe que ela brilhará para ele entre mil estrelas no céu sem igual da cidade negra.”

“É como se corresse sobre o mar para as estrelas, na mais maravilhosa viagem do mundo. Uma viagem como o Professor nunca leu nem inventou. Seu coração bate tanto, tanto, que ele o aperta com a mão.”

Ao final, não temos grandes reviravoltas e vários deles continuam a viver no trapiche, outros vão em busca de seus ideiais e alguns continuam a fazer o que fazem de melhor e criam fama com isso, seja boa ou ruim. Esse é Capitães da Areia, uma história de várias histórias de vida. Leiam e entendam o porque de, mesmo sendo um clássico de mais de 80 anos, ser um livro que retrata bem como é a vida nos dias atuais.

E esse foi o primeiro de vários. Não terei regularidade definida para trazer algum livro para a coluna, mas garanto trazer quando puder.

Até a próxima.

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